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Mostrando postagens de 2014

LIBERDADE

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            LIVRE?     A liberdade já passou por aqui: Pela liberdade acordei, pela liberdade me vesti e lutei, pela liberdade, liberdade senti.   Imberbe, trajado a rigor arma na mão desafiei sem temor: porque a liberdade crescia ali em sonhos verdes que como homem pari.   Noite, viagem, carros de combate, vento e alento nas mensagens trocadas; deslizando madrugada adentro em pequenas vitórias alcançadas: Confrontos, negociações, desfazer o empate enfrentar as ilusões na liberdade, com arte.   A liberdade já passou por aqui: Heróis a vilões, cravos e canhões, soldados fomos e tememos, o que a História ditará: repercussões do que realmente somos e seremos.   A liberdade já passou por aqui, sim. Um dia saberei se sobrevivi.

MEMÓRIAS DE 2013

Páginas  do Meu Diário ( 1º Semestre) Terça-feira, 8 de Janeiro de 2013 (Miratejo, 09/01 02:25h) “À espera do milagre” As sombras da noite, as insónias que me invadem o espírito, o silêncio que me percorre o sangue. Deito-me, apago a luz, mas falta-me fazer algo. A meu lado não tenho ninguém. Comigo só mesmo este livro. Escrevo, escrevo sobre ele as memórias do que sou. A morte aguarda-me no escuro e, por isso, fico acordado, à espreita. A mágoa, o amor perdido. Choro, mas porquê? Por quem? Rasgo-me por dentro. Estou farto de ser vítima. Acorda homem! No entanto, não durmo. Olho em volta e apenas sombras, espíritos que me envolvem e me acusam de ser inerte, sem vida, sem paixão. Sonhos e mais sonhos de vida, sem vida. Projectos de amor, de paz, de família; e uma ponte ruiu mesmo por debaixo dos meus pés. Iludi-me no caminho. Errei na estrada. Sofro então por meus filhos, mas levanto-me para lhes dizer que estou bem, que estou feliz, que continuo a ser um homem de sorte, com

QUERIDO PAI

A paixão pode surgir-nos e manifestar-se das mais diversas formas. E o amor, sempre o amor está presente, mesmo que as circunstâncias sejam díspares.   E hoje que foi um dia muito especial para mim, já era, no entanto, desde há muitos anos atrás e por razões bem mais dolorosas e diferentes.   Fatalmente, nesta data, há trinta anos atrás, meu Pai descia à terra.   E ainda me lembro dele, do seu rosto de sofrimento, daqueles seus olhos verdes lindos a olhar para dentro, enquanto se agarrava às grades da cama, no hospital, nos seus últimos dias aqui connosco.   Depois recordo-me que brinquei com ele, deitado na sua carruagem de pinho, enquanto a noite nos preparava para a sua  última viagem, dizendo-lhe que me parecia o Pai Natal, tal era o seu aspecto castiço com aquele algodão em volta do pescoço para esconder a sua doença.    Além de um poema, deixamos-lhe também um baralho de cartas para ele jogar com os amigos, como ele tanto gostava. Vi-o então a sorrir, com aqu

MUSA

Peço desculpa por te incomodar, E invadir tua privacidade Dizer-te o que sinto e falar Do que é a nossa realidade. Conheço os teus medos, Mas não sei teus segredos Embora do que sinto, gosto E será que no que aposto Vou ter o que merecer? És, sim, minha musa, Meu desejo, mulher confusa: Um sonho, talvez, em maré vazia, Mas quem sabe, um dia... Embarcarei em teus navios Mar afora para sentir O doce sabor e os arrepios De um amor para parir. CA

POETA FINGIDOR

Queres a poesia que sinto? Queres a paixão de um poeta? Queres a loucura de que não minto? Queres a verdade concreta? Queres viver um sonho De palavras gastas, já escritas? Ou acreditar nas encriptas Formas de amar? Nos sentidos diversos De quem gosta do que diz? Que te olha com a ternura Que sente por uma criança Numa incondicional aliança Por quem olhamos, petiz, Gostamos, protegemos E que nos leva ao amor? Queres a poesia que sinto? Queres a ilusão da minha dor? CA Nota:(com alterações ao original)

ESCADAS

Subo as escadas contigo É a primeira vez e não decido: Deixo-me levar por ti No teu sonho e dormi Embalado nos teus barcos Como embalo nos teus braços E cheguei ao cimo e sorri Do cansaço em vez do abraço Que me apeteceu e não aconteceu. Pretexto, talvez Para lá voltarmos Outra vez Provavelmente com mais paixão, levando-te pela mão. CA

AMARRAS

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amarras As palavras perdem todo o sentido quando te vejo: e fico feliz só por estares mesmo na distância de um meio metro já não há palavras que valham o ensejo do momento de te sentir perto, olhar-te e os meus sentimentos se calam no desejo do que é certo. Errado: reclamas distância em tua defesa e sobre minha dor acumulada de mágoa e em surpresa minha angústia recrudesce desesperada. Baixo o olhar para o chão, procuro não vacilar, tento segurar-me da morte com minha própria mão e repetir bem alto e forte que não te posso nem devo amar. CA

AMAR

Alguém escreveu que basta tirar algumas letras para mudar o sabor AMAR GO Então se é assim: Eu quero que a vida AMARGA seja doce e que o AMARGO que sinto AMARE de vez num cais de esperança que é o AMOR e do qual me afasto em estertor. Quero AMAR, sem a amargura AMARGA ... deste viver sem doçura,  quero viver no sorriso que transmite uma criança, quero AMAR a aliança que perdi  no dia AMARGO em que te foste e morri. CA

O CHORO DE UMA CRIANÇA

O choro da criança: é o princípio de tudo: logo à nascença, para respirarmos, uma palmada no miúdo. Precisamos de chorar e choramos sempre, na juventude, mais tarde e até agora, nesta hora: do passado até ao presente, pela vida afora. O pior é o choro que não se ouve. Aquele silêncio da dor interior que nos rasga por dentro. E sofremos sem amor: Um choro invisível, indescritível. Na psicologia algo risível: Causa, efeito, vamos analisar Que mestre para responder a tão subtil forma de estar? E chega a hora do adeus, para todos e até ateus: choramos na despedida dos amigos que já sem vida nos deixam a alma sentida. Mas para que tudo acabe bem, deixo um sorriso de esperança que na psicologia valerá um vintém depois do choro de uma criança. Na psicologia aprendemos que nada é absolutamente garantido; muitos mestres, muitas vidas lemos para um teorema ficar concluído. E se a criança chora, Será que não é apenas fome? -

25 DE ABRIL DE 1974

Onde é que estavas no 25 de Abril? Ele naquele tempo era apenas um imberbe mancebo lançado para a vida – fora das saias da mãe – e que nada sabia sobre o que tinha pela frente. Ali chegado, cabelo rapado, diante do quartel, surgia-lhe assim abruptamente um enorme desafio, completamente novo e diferente e que tinha agora de ser capaz de transpor e superar. Era a nova vida do serviço militar obrigatório. Entregaram-lhe uma arma que veio a reconhecer ser uma espingarda de guerra G3 e, com receio, guardou-a religiosamente no cacifo não fosse aquilo disparar inadvertidamente contra alguém. Aprendeu a manuseá-la e, mais tarde, foi até obrigado a desmontá-la e montá-la, peça por peça, de olhos vendados, com o objectivo de, em cenário nocturno de guerra, ser capaz de ultrapassar, sem ver, um encravamento ou anomalia.   Em exercício, perante as exigências, lembrava-se de sua mãe, chegando a pensar que se elas soubessem o que aqueles tipos faziam aos seus filhos, iam lá e batiam-lhes

ESPREITANDO MAIS ALÉM

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Caminhava indiferente, tarde fora, pelo passeio, quando te vi. Olhei-te, insignificante, mas chamaste-me a atenção porque era como se tentasses espreitar mais à frente, o rio ali ao lado. Uma simples planta silvestre, sozinha no meio da relva e, no entanto, destacada, espreitando mais além. Guardei-te na minha alma, com o meu olhar que não te esquece. Aqui serás sempre minha, mesmo que a intempérie te tenha já levado.

SENTIDOS

Saímos para a rua dispostos a viver um dia diferente. A Primavera sobrevoa-nos o horizonte em toda a sua plenitude. Sentimos no ar um clima autêntico, puro e duro, ou melhor, macio, já que uma amena lufada de ar que se faz levemente sentir sopra-nos como que segredos aos ouvidos, acariciando-nos ao mesmo tempo o rosto e de uma forma doce, meiga e reconfortante. Caminhamos sentindo o pulsar da vida: são as crianças que brincam alegremente à nossa volta; ora gritando, ora rindo umas das outras, correndo numa e noutra direcção. O rio calmo, muito sereno e sem qualquer movimento, parece um espelho cintilante reflectindo a acalmia vinda do céu sem nuvens, enquanto um ciclista pedala compassadamente sentado ao selim usufruindo, com a velocidade, a possibilidade de chegar mais depressa. Eu caminho sem pressa por entre as flores, o jardim, as pessoas, os automóveis que passam ao lado e as casas. Observo, sinto, inspiro e expiro com a força intensa que me é permitido pela lei da naturez

ENERGIAS

Esta podia se a página do Meu Diário de hoje. "As palavras cruzam-se no infinito do seu paralelismo e colidem numa luz que as desperta na razão da energia que transportam. É o inexplicável no presente físico explicável. Dirão uns: acaso, destino; outros, obrigação, sentido da vida. E cada um parte seguindo o seu caminho sem perceber bem o porquê. Atraídos ou não, escolhidos ou não. Razões indefinidas pelo tempo que as descobre e envolve numa manta de retalhos que somos cada um de nós.   Não há cansaços, não há angústia, apenas uma direcção para seguir e partilhar na esperança de que chegaremos ao fim incólumes. Uma jornada de virtudes, com medos e receios que se vão ultrapassando em cada dia da viagem. E que nos espera lá à frente? Paramos, observamos, avaliamos: absorvemos o que nos rodeia e inalamos os odores que se espalham. Serão verdades? Serão mentiras? Que futuro? Perguntas com respostas já dadas ontem, no passado. Mas não as conhecemos intrinsecamente. Experimen

MEMÓRIAS 2012

Páginas  do Meu Diário ( 2º Semestre) Desta vez deixo aqui os meus melhores resumos do 2º semestre de 2012, de acordo, obviamente, com o critério que defini. Quinta-feira, 5 de Julho de 2012 (Miratejo, 23:40h) “Um amor à sombra” Encontrei-me numa esplanada da praia. Um livro sobre a mesa e uma bebida que incluía gelo e limão. À minha frente gente que circulava em fato de banho, ora num ora noutro sentido, pelo paredão que me separava dos areais brancos até à água do Oceano, lá ao fundo. Na linha do horizonte há um navio de carga, um petroleiro, daqueles que transportam toneladas de combustível. Há muito sol, mas eu estou à sombra de um enorme chapéu colectivo preto que cobre uma grande parte daquele local aprazível. Não está ali mais ninguém sentado; só eu e o meu livro por desfolhar, poisado sobre a mesa, com o Ginger Ale vertido no copo alto. É apenas um momento de observação. Dali a pouco dou um trago na bebida adocicada e abro uma página marcada, já quase a meio do gra