Postagens

Mostrando postagens de 2018

SER AVÔ

No dia seguinte aquele em fui de novo avô pela terceira vez, aqui fica o meu testemunho, face à condição de o ser. Deus vos abençoe a todos.   "Olhei para ele e vi um homem entrado na idade: diria que pelos sessenta anos. Figura altiva, espigada e magra, com rosto característico de aspecto caucasiano, tinha o cabelo grisalho e o seu olhar confiante, mesmo à distância, transparecia alguma felicidade. Na sua boca havia sorrisos abertos, quando olhava e se dirigia às duas crianças que brincavam à sua volta e com ele. Trajava roupa descomprometida, de caracter jovial e sem preconceitos e interagia com alguma facilidade motora com aqueles que me pareceu serem seus netos. Interiorizei aquela imagem e reflecti sobre mim e o meu próprio estatuto de avô. Recuei à minha infância, como neto, e só consegui ver minha avó, muito velhinha, pequenina, vestida de preto da cabeça aos pés, com um lenço também preto a cobrir-lhe a cabeça e escondendo quase todo o rosto. Era uma avó pouco af

CARTA A FERNANDO PESSOA

Seixal, 25 de Janeiro de 2018 Meu caro amigo, Bom dia. Espero que esta carta o vá encontrar sepulcralmente tranquilo na sua ancestral paz (se é que é possível dizê-lo, nesta simbiose energética), que eu, ainda por cá, mesmo distante no tempo e no espaço, vou tentando gerir minhas perturbações, nomeadamente, uma delas, o efeito que o eco das suas palavras escritas vai hoje surtindo pelo meu subconsciente. Provavelmente estranhará o teor dela e até a minha motivação, mas digo-lhe, neste momento, ela apenas pretende ser um elo de ligação, como um traço, entre aquilo que o meu amigo foi como Pessoa e aquilo que eu sou hoje como Fernando. Ironia, pensará o meu amigo, e que estou apenas a brincar com as palavras. Mas é isso mesmo: e como adoro brincar com as palavras, gostava de perceber melhor como o meu amigo as dominou com tanta mestria e fez delas uma arte que ultrapassou todo e qualquer simples sentimento e atingiu, com elas, já várias gerações, como me atingiu a mim. De