QUERIDO PAI
A paixão pode surgir-nos e manifestar-se das mais diversas formas. E o amor, sempre o amor está presente, mesmo que as circunstâncias sejam díspares. E hoje que foi um dia muito especial para mim, já era, no entanto, desde há muitos anos atrás e por razões bem mais dolorosas e diferentes. Fatalmente, nesta data, há trinta anos atrás, meu Pai descia à terra. E ainda me lembro dele, do seu rosto de sofrimento, daqueles seus olhos verdes lindos a olhar para dentro, enquanto se agarrava às grades da cama, no hospital, nos seus últimos dias aqui connosco. Depois recordo-me que brinquei com ele, deitado na sua carruagem de pinho, enquanto a noite nos preparava para a sua última viagem, dizendo-lhe que me parecia o Pai Natal, tal era o seu aspecto castiço com aquele algodão em volta do pescoço para esconder a sua doença. Além de um poema, deixamos-lhe também um baralho de cartas para ele jogar com os amigos...