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Mostrando postagens de 2019

PALAVRAS DE NAMORO

Dia dos namorados, pois; ou apenas palavras a dois? Serão talvez gestos escritos, uma espécie de hieróglifos: Junta-se o carro aos bois.   Letras sobre letras, palavras escrevinhadas será que são tretas as letras escarrapachadas?   Não, claro que não. São como a fome para o pão: há vontade de comer, de beijar, ir a correr e na ânsia de acabar aproveitamos para andar atrás do que queremos ter.   Namoradas e namorados, já se sabe como é: cabem todos, até os desamparados e é um bom negócio até.   Ficam as palavras que sonham em gestos ou balbuciadas; que sobre a tristeza elas ponham as como AMOR realçadas.                

O BARBINHAS

O Barbinhas vivia num mundo rodeado de água por todos os lados. Só aí podia viver. Era um peixe e muito pequenino: tinha o tamanho de um dedo mindinho de uma criança. O seu nome, Barbinhas, foi-lhe dado por causa da barbatana ventral ˗ tinha o aspecto de uma barbicha. Mas era um peixe muito lindo, cheio de cores metálicas, às riscas brilhantes e intensas. E nadava feliz naquelas águas sempre limpas e bem tratadas, sem poluição até ao dia que percebeu, que algo mudara. Deixaram de limpar o aquário onde vivia e a água começou a ficar turva e esverdeada. As vistas que tinha para o mundo exterior estavam a ficar cada vez menos nítidas e, pior que isso, começou a sentir-se só, doente, sem comida e abandonado. Ele sempre vivera ali desde que se lembra e num ambiente que lhe parecia ser de um jardim. Sentia-se como a viver no meio de um coral maravilhoso onde no fundo havia também umas pedras brancas e pretas e uma rocha enorme onde se refugiava para dormir. Mas agora, ali naquela á

O PORQUINHO SALVADOR

Certo dia, conheci um menino chamado Artur. Ele mudara-se para a minha rua há pouco tempo. Encontrei-o a brincar sozinho sobre a relva do parque do jardim da minha zona, a jogar à bola contra uma baliza sem guarda-redes. Eu olhei para ele e reparei que ele tinha muito jeito, porque me pareceu que jogava muito bem. Ele era pequenino, só tinha quatro anos, e eu era um pouco mais velho que ele. Mas ele era espigadote e forte. Gostei dele logo que o vi. Achei-o muito simpático e divertido, trocando a bola de pé para pé. Ele viu-me e perguntou-me se eu queria brincar com ele. Disse-lhe que sim, porque também gosto muito de jogar à bola. Ele era do Benfica e eu do Sporting, mas isso não fazia diferença nenhuma na nossa amizade. Jogámos depois os dois à bola, muitas vezes e éramos tão amigos, tão amigos que umas vezes ganhava ele, outras vezes ganhava eu e, na maioria das vezes, empatávamos só para que ninguém ficasse triste.   O Artur tornou-se assim para mim um amigo muito especial

SONHOS REAIS

Quando for grande quero ser como Sophia e inventar estórias de meninas que querem ser ricas, bonitas e princesas. Também quero viver em castelos ou palácios sumptuosos e forrar as paredes inteiras do meu quarto com espelhos que me mostrarão o quanto bela eu sou e aos quais perguntarei: “ quem é a mais bonita mulher deste reino?” Espelhos que me responderão transparecendo imagens reais, não destorcidas ou fictícias de uma realidade que será a minha: que sou eu. Quero, sim, viver como Lúcia em palácios rodeados de jardins, com muita luz a entrar pelos quartos adentro, muitas salas e salões para bailes e festas, com pianos de cauda e harpas a um canto – para animar os bailes – e com longos corredores percorridos por criados que com bandejas nas mãos nos servirão canapés e taças de vinho branco.   Quero, sim, viver a fantasia de príncipes encantados que me arrebatarão à vida fútil que levo e me levarão para o meio da sala de baile, me farão rodopiar, dançando ou me ensinando a d

O SEGREDO DO ARTUR

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Fui a casa do meu amigo Artur, fazer-lhe uma visita e, logo que me viu, disse-me a sorrir: “tenho uma estória para te contar”. Ele fica sempre muito contente por me ver e eu também, por poder estar ali na sua companhia. Porque gostamos muito um do outro, é bom encontrarmo-nos de vez em quando, quando podemos. Ele só tem cinco anos e eu já sou velhote. Quando vou a sua casa costumo contar-lhe estórias com “duendes” e, por isso, diz que eu sou o “duende Carlos”. Ele diverte-se muito com elas. São estórias de que não só gosta muito, como o transportam para a terra dos sonhos e onde nos sentimos, os dois, fantasticamente felizes. A última estória que lhe contei até falava do “duende” que fez uma sopa com massas gigantes, estória esta que ele adorou. E como o Artur gostou tanto desta estória, um dia o “duende Carlos” até lhe levou mesmo a verdadeira sopa de massas gigantes. É verdade, a estória tornou-se um dia realidade e o Artur deliciou-se comendo uma verdadeira sopa mágica.