O SEGREDO DO ARTUR


Fui a casa do meu amigo Artur, fazer-lhe uma visita e, logo que me viu, disse-me a sorrir: “tenho uma estória para te contar”. Ele fica sempre muito contente por me ver e eu também, por poder estar ali na sua companhia. Porque gostamos muito um do outro, é bom encontrarmo-nos de vez em quando, quando podemos.

Ele só tem cinco anos e eu já sou velhote. Quando vou a sua casa costumo contar-lhe estórias com “duendes” e, por isso, diz que eu sou o “duende Carlos”. Ele diverte-se muito com elas. São estórias de que não só gosta muito, como o transportam para a terra dos sonhos e onde nos sentimos, os dois, fantasticamente felizes.

A última estória que lhe contei até falava do “duende” que fez uma sopa com massas gigantes, estória esta que ele adorou. E como o Artur gostou tanto desta estória, um dia o “duende Carlos” até lhe levou mesmo a verdadeira sopa de massas gigantes. É verdade, a estória tornou-se um dia realidade e o Artur deliciou-se comendo uma verdadeira sopa mágica.

Bom, mas desta vez os nossos papéis de contar estórias estavam trocados e, em vez de ser eu, era ele que me ia contar uma estória. Fiquei muito contente por ser assim, diferente.

O Artur estava realmente muito feliz e sorridente. Reparei, por isso, que na sua boca lhe faltavam dois dentes na frente. Mas na sua idade isto é normal e não dei relevância nenhuma. Mas afinal, esse pequeno detalhe ia ser deveras importante.

Ele sentou-se na beira da sua cama, eu sentei-me ao seu lado e fiquei muito entusiasmado para o ouvir. Eu, que adoro estórias, instalei-me também o melhor possível e, atentamente, apurei os ouvidos, cheio de entusiasmo.

– A estória chama-se “A fada dos dentes” – começou por dizer-me e prosseguiu:

– Era uma vez um menino que estava a comer uma maça. Deu uma dentada e, ao mastigar, começou a sentir que tinha algo muito duro na boca. Pegou com a mão e verificou que era um dente – daqueles de leite – que lhe tinha caído. Ficou atrapalhado, mas logo se lembrou de um sonho que tivera, em que a uma “fada madrinha”, lhe dissera que aquilo era normal e que até havia de lhe cair mais dentes e depois iam crescer outros no lugar daqueles. E, melhor ainda, era que se pusesse aquele dente debaixo da sua almofada, quando fosse dormir, a “fada dos dentes”, durante a noite, deixava-lhe um presente. “Que bom, pensou o menino”.

E quando acordou, o menino lá tinha debaixo da almofada o seu presente, tal como a “fada madrinha” lhe tinha dito. E o presente eram várias notas em dinheiro, que ele já conhecia. “Uaaauuuuu”, disse ele todo contente. “Tantas notas”. A “fada dos dentes” tinha sido muito amiga e generosa para com ele.

Uns dias depois, voltou a cair-lhe outro dente quando mordia uma fatia de pão e pensou logo em colocá-lo debaixo da almofada para voltar a receber um presente em dinheiro da “fada dos dentes”. E assim foi. Quando acordou, o menino levantou a almofada e, para sua surpresa, só lá tinha duas pequenas moedas.

– Foi uma desilusão para o menino – apressei-me logo a dizer.

– Não – disse-me o meu amigo Artur – e explicou-me:

– Nada disso. Não percebeste. A razão foi que a “fada dos dentes” só tinha deixado lá aquelas moedas porque nessa noite houve muitos meninos a quem lhes caíram os dentes e a “fada dos dentes” teve que distribuir o seu dinheiro por mais meninos. Foi só isso... Percebeste agora?

– Muito linda esta tua estória Artur – disse-lhe, então. Afinal, esse menino foi muito compreensivo com a “fada dos dentes” e não ficou triste por não ter recebido tanto dinheiro da segunda vez como da primeira. Muito bem – acrescentei.

– É realmente muito importante compreender e sabermos partilhar. Assim, tanto a “fada dos dentes” como a “fada madrinha” ficaram, com certeza, muito contentes por este menino ser assim tão amigo e não se importar que o dinheiro tivesse sido repartido com outras crianças.

– Parabéns, Artur. ­Estou muito feliz por me teres contado uma estória, tão bonita assim.

No fim, para minha surpresa, ainda a sorrir sem aqueles dois dentes na boca, segredou-me:

– Não digas a ninguém, mas o menino desta estória sou eu.

E rimo-nos os dois à gargalhada.

                   

 

 

                                            

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