O PORQUINHO SALVADOR

Certo dia, conheci um menino chamado Artur. Ele mudara-se para a minha rua há pouco tempo. Encontrei-o a brincar sozinho sobre a relva do parque do jardim da minha zona, a jogar à bola contra uma baliza sem guarda-redes. Eu olhei para ele e reparei que ele tinha muito jeito, porque me pareceu que jogava muito bem. Ele era pequenino, só tinha quatro anos, e eu era um pouco mais velho que ele. Mas ele era espigadote e forte. Gostei dele logo que o vi. Achei-o muito simpático e divertido, trocando a bola de pé para pé. Ele viu-me e perguntou-me se eu queria brincar com ele. Disse-lhe que sim, porque também gosto muito de jogar à bola. Ele era do Benfica e eu do Sporting, mas isso não fazia diferença nenhuma na nossa amizade. Jogámos depois os dois à bola, muitas vezes e éramos tão amigos, tão amigos que umas vezes ganhava ele, outras vezes ganhava eu e, na maioria das vezes, empatávamos só para que ninguém ficasse triste.
 
O Artur tornou-se assim para mim um amigo muito especial. Tão especial que umas vezes eu ia dormir a casa dele e outras vezes ele vinha dormir à minha. Jogávamos na Play Station, fazíamos jogos de palavras num tabuleiro com a ajuda do pai dele que se juntava a nós, fazíamos desenhos e divertíamo-nos todos imenso. A certa altura acabávamos cansados, adormecendo exaustos de tanta brincadeira, ou os pais dele tinham que nos obrigar a ir deitar porque a brincadeira não tinha fim. Como já seria tarde explicavam-nos sempre que as crianças se devem deitar cedo porque é quando estamos a dormir que crescemos.
Mas uma das vezes que dormi na casa dele, o Artur, estava muito preocupado. Já era tarde e o pai, o senhor Emanuel, ainda não tinha chegado para jantar e depois brincar connosco, como era costume. Comemos à mesa sozinhos e, nessa noite, o Artur até quis ir para a rua esperar pelo pai, mas a sua mãe não deixou e disse-lhe que o pai estava a trabalhar e que viria para casa mais tarde e que não se preocupasse. Acabámos por ir para a cama, mas o Artur, nada convencido da justificação da mãe, nem conseguia adormecer. O pai que costumava vir ao nosso quarto desejar-nos boa noite nessa noite, não veio e adormecemos.
Na manhã seguinte o Artur levantou-se e foi a correr para o quarto do pai para lhe dar um abraço e um beijinho, mas não o encontrou na cama. Triste, foi à procura da sua mãe e encontrou-a na cozinha a tratar dos pequenos-almoços.
– Bom dia, meu amor - disse-lhe ela sorridente ao vê-lo chegar tão apressado.
– Mãe, o pai não dormiu em casa? Perguntou logo o Artur sem sequer reparar no sorriso da mãe.
– Claro que dormiu – respondeu ela, tranquila e sossegando-o.
– Mas eu não o vi. Ele não está no quarto. E ele não me deu um beijinho de boa-noite ontem e não está na cama agora – ripostou o Artur ainda preocupado e sem perceber muito bem o que se estava a passar.
A mãe do Artur chamou-o, sentou-se, pegou nele ao colo, e explicou-lhe enquanto o afagava e o sentava no seu joelho:
– Não te preocupes, meu querido. Sabes? Nós precisamos do dinheiro que o pai ganha para vivermos. Ele está a trabalhar um pouco mais porque para podermos comprar a nossa comidinha, o pãozinho, as nossas coisinhas nós temos que ter dinheiro para isso. E o pai precisa de trabalhar. E continuou – Ele quando chegou ontem já estavas a dormir e hoje de manhã teve que se levantar mais cedo e já foi embora para o trabalho.
Artur não ficou muito contente com a situação e ficou a pensar no assunto.
Quando à noite o pai do Artur chegou a casa, o Artur correu na sua direcção, muito feliz, saltou-lhe para o colo e agarrou-o pelo pescoço todo contente e encheu-lhe a cara toda de beijinhos. Iam quase caindo os dois.
 – Tenho uma coisa para ti, paizinho – disse o Artur muito eufórico, agarrado ao pescoço do pai.
– Tens? – Estranhou o pai.
– Tenho.
O Artur soltou-se do colo e foi a correr ao seu quarto buscar o porquinho mealheiro que lá tinha com o dinheiro que os avós, os tios e outras pessoas lhe deram, e entregou o porquinho ao seu pai.
– É para ti, pai. Fica com o meu dinheiro, para não teres que trabalhar mais até tão tarde.
O senhor Emanuel olhou para o filho, pegou nele de novo ao colo, abraçou-o e só conseguiu dizer:
– Amo-te muito, meu filho, obrigado.
E o pai do Artur nunca mais precisou de trabalhar até tão tarde.
E sabem o que mais engraçado tem esta história que vos contei sobre o meu amigo? É que o Artur existe mesmo e a estória é verdadeira. E haverá, com certeza, muitos meninos como o Artur por esse mundo fora. Meninos e meninas que precisam que os seus pais sejam mais presentes nas suas vidas; que partilhem com elas as brincadeiras para elas crescerem assim mais felizes e menos preocupadas.

 

 







 
 
 
 


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