O BARBINHAS


O Barbinhas vivia num mundo rodeado de água por todos os lados. Só aí podia viver. Era um peixe e muito pequenino: tinha o tamanho de um dedo mindinho de uma criança. O seu nome, Barbinhas, foi-lhe dado por causa da barbatana ventral ˗ tinha o aspecto de uma barbicha. Mas era um peixe muito lindo, cheio de cores metálicas, às riscas brilhantes e intensas. E nadava feliz naquelas águas sempre limpas e bem tratadas, sem poluição até ao dia que percebeu, que algo mudara. Deixaram de limpar o aquário onde vivia e a água começou a ficar turva e esverdeada. As vistas que tinha para o mundo exterior estavam a ficar cada vez menos nítidas e, pior que isso, começou a sentir-se só, doente, sem comida e abandonado.

Ele sempre vivera ali desde que se lembra e num ambiente que lhe parecia ser de um jardim. Sentia-se como a viver no meio de um coral maravilhoso onde no fundo havia também umas pedras brancas e pretas e uma rocha enorme onde se refugiava para dormir. Mas agora, ali naquela água turva, tudo estava a desaparecer. Começou a perder a alegria, o vigor e a força que tinha. Também deixou de receber alimento e sentia-se cada vez mais fraco e debilitado. Não percebia bem o que acontecera, mas o certo é que algo de errado se passava.

O Dinis era um menino que vivia com os pais numa casa grande, muito bonita e alegre. A casa tinha várias divisões e o Dinis tinha um quarto só para ele. E neste quarto não faltavam brinquedos: havia espadas, automóveis, dinossauros e muitos heróis dos desenhos animados. E havia também um aquário com um peixinho muito lindo lá dentro. Até àquele dia. O Barbinhas, muito fraco e doente, viu-se muito mal e quase a morrer. Já mal conseguia nadar naquela água turva e parada.

Certo dia, os pais do Dinis montaram lá em casa, na sala, um enorme aquário equipado com luzes e água corrente a fazer muitas bolhinhas. E este aquário tinha vários peixinhos, cada um diferente do outro, todos muito bonitos e às cores ou só de uma cor. Havia uns que eram todos vermelhos, outros todos azuis e outros todos pretos. Era um aquário muito vistoso e colorido, cheio de artefactos relativos ao mar, também com um enorme coral a cobrir o fundo e até havia um barco naufragado onde todos se escondiam para brincar às escondidas. “Os peixinhos que aqui vivem devem sentir-se dentro de um enorme oceano, tanto que têm para nadar e descobrir” - pensou O Dinis. 

Foi neste momento que o Dinis se lembrou que tinha um pequeno aquário no seu quarto e do qual se esquecera completamente, tão deslumbrado tinha ficado com este novo e grande aquário da sala. Aflito, correu para o quarto e lá foi encontrar o Barbinhas muito atrapalhado, quase sem respiração, a boiar na água meio escura.

Pediu ajuda aos pais e estes transportaram-no para o novo aquário. Mas ele estava tão doente que mal reagiu ao novo “Oceano”. Estava mesmo mal e o Dinis ficou muito triste por isso. Os pais improvisaram então um hospital de peixinhos, deu-lhe umas gotas como remédio e ficaram à espera que o Barbinhas recuperasse.

No dia seguinte notaram melhoras e o Barbinhas já se movia de um lado para o outro tentando recuperar dos seus males. Já conseguia comer e já foi possível juntá-lo aos outros peixinhos que ficaram muito contentes de o conhecer e de o ver a nadar de um lado para o outro, já cheio de energia.

Nos dias seguintes já se percebia que tinha arranjado amigos com quem podia agora brincar e estava muito feliz por isso. Descobriu ainda que havia outros peixinhos parecidos com ele com quem podia partilhar as suas brincadeiras e que também já não ia mais viver sozinho.

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