A VIDA
A minha vida está a mudar. Lentamente, mas está. Acontecem-me coisas inesperadas, algumas boas, outras desagradáveis e lido mal com estas últimas. Mas estou a começar a perceber que nada acontece por acaso, e, como me dizia a minha querida mãe, "nem tudo o que nos parece mau para nós o é". E, de facto, aos poucos estou a aceitar melhor esta ideia e a perceber que ela tinha razão e que tudo o que nos acontece tem uma razão de ser.
Obrigado assim a todos os que de alguma forma têm contribuído para estas mudanças, nomeadamente, os meus novos "seguidores" deste humilde blogue que aqui se juntaram a partir do meu 1º ano de existência nestas águas.
E como tudo na vida parece cíclico, repete-se hoje o que senti há quarenta anos atrás. Por isso, aproveito mais uma vez para ir rebuscar às minha memórias um poema que escrevi em 14 de Setembro de 1973 e que aqui passo a transcrever:
A VIDA
E navego por mares distantes
entre peixes e outros animais.
Sou carne, todo um corpo sensível
às ondas, ao ruído fustigador
das águas contra o barco.
A calma reina ao sabor
das ondas e do céu azul
na água que cintila recortada
entre espuma branca que se forma.
As gaivotas rasgam o céu,
as nuvens surgem no horizonte;
os olhares tornam-se frios,
os corpos gelam e agasalham-se
em roupas velhas e sebosas.
As almas escurecem e o tempo
as pessoas movimenta.
Apressam-se e oram
interiormente sonha-se
com os filhos, com a mulher,
com a vida.
E a vida estremece
entre olas bravias que se agigantam
envolvidas pelo céu
negro e agressivo que oprime.
Os corpos calafriados oram
mais alto, sonoramente gritam
pela absolvição que se perde
com o turbilhão das águas
que se revoltam;
pela vida que se apaga
entre águas e céus,
entre nuvens e seres
que se movimentam dançando
alheios à miséria; nada
podem fazer sobre todo o sabor
amargo/salgado da água
que se envolve e dissolve
até ao âmago.
E morre-se longe,
abalroados pela água
agitada e inconstante
sem que ninguém se aperceba.
Carlos Alberto
PS: Fiz ligeiríssimas alterações pontuais ao poema inicial.
A VIDA
E navego por mares distantes
entre peixes e outros animais.
Sou carne, todo um corpo sensível
às ondas, ao ruído fustigador
das águas contra o barco.
A calma reina ao sabor
das ondas e do céu azul
na água que cintila recortada
entre espuma branca que se forma.
As gaivotas rasgam o céu,
as nuvens surgem no horizonte;
os olhares tornam-se frios,
os corpos gelam e agasalham-se
em roupas velhas e sebosas.
As almas escurecem e o tempo
as pessoas movimenta.
Apressam-se e oram
interiormente sonha-se
com os filhos, com a mulher,
com a vida.
E a vida estremece
entre olas bravias que se agigantam
envolvidas pelo céu
negro e agressivo que oprime.
Os corpos calafriados oram
mais alto, sonoramente gritam
pela absolvição que se perde
com o turbilhão das águas
que se revoltam;
pela vida que se apaga
entre águas e céus,
entre nuvens e seres
que se movimentam dançando
alheios à miséria; nada
podem fazer sobre todo o sabor
amargo/salgado da água
que se envolve e dissolve
até ao âmago.
E morre-se longe,
abalroados pela água
agitada e inconstante
sem que ninguém se aperceba.
Carlos Alberto
PS: Fiz ligeiríssimas alterações pontuais ao poema inicial.
Por muito que vivamos, a vida surpreende em cada acontecimento e sentimos sempre a incapacidade de lidar com o desagradável. Nesses momentos, isolo os bons acontecimentos e procuro focar os meus pensamentos neles.
ResponderExcluirAbraços
Obrigado, Maria do Sol estou quase a chegar lá. Um telefonema e tudo pode mudar. Primeiro rumei a sul, onde quase, quase me instalei a olhar para África. Depois faltou um pouco para ficar mais perto com a Costa Vicentina à vista. Agora, de repente, já estou a norte quase, quase em Espanha... E a minha vida a mudar, estou quase quase lá... Nada é definitivo, sempre em mudanças, quase, quase feliz com a música da guitarra nos ouvidos!
ResponderExcluirQue o quase seja JÁ.
ExcluirAbraços
Arrepiante... este estado de alma... estou a ver além de fotografo também poeta, grandes facetas que aplaudo de pé... sem estar a ser mesureiro.
ResponderExcluirObrigado Carlos por este momento de culto.
Bem-Haja
Obrigado Ricardo por aparecer por aqui.
ResponderExcluirNinguém precisa de ser mesureiro para estar aqui, bem pelo contrário. É para mim sempre um privilégio quando alguém aqui chega e se apresenta sem quaisquer compromissos senão o de partilhar sentimentos, ideias ou afinidades.
Obrigado e seja sempre bem-vindo.
Acrescento, no entanto, que nem sou poeta nem fotógrafo. Gosto muito de escrever e de tirar fotografias, só isso. E como se costuma dizer, quem toca muitos instrumentos, não toca bem nenhum: eu estou nesse lote. Ok?
Um grande abraço
Carlos Alberto
Que maraviçlhosda tua poesia. Falaste de coração, sensibilidade mil! abraços,chica
ResponderExcluirObrigado Chica, admitindo que quiseste escrever "que maravilhosa a tua poesia".
ResponderExcluirSim, é sempre o meu coração que fala. Ninguém consegue expressar-se desta forma se não for o coração a dizê-lo.
São todos esses balanços da vida, pedaços de nós,
ResponderExcluirque nos aquecem a alma dorida...
E ainda que sejas «abalroado pela água agitada e inconstante»,
a tua/nossa/minha estrela, sempre brilhará lá no alto, serena,
mas persistentemente...
Obrigado Ana pelo teu comentário e por teres chegado aqui.
ResponderExcluirDe facto, toda a minha vida foi vivida em "alto mar", arriscando tudo: família, valores, graças, forças.
Algumas vezes caí e levantei-me, outras vezes ajudei quem estava ao meu lado; às vezes a pesca foi frutuosa, outras vezes fui mordido por tubarões.
Tenho maselas, sim dessa faina, mas estou vivo.
Já não "ando no mar", limito-me a olhar o céu, ver as estrelas, sentir o chão que piso e com a consciência que fiz sempre o que o meu coração me ditou.
Fui o melhor homem do mundo? Não. Mas não estou a mudar nada porque, pensando em mim e na minha felicidade, foi aos outros que entreguei tudo. Ver feliz quem esteve ao meu lado foi sempre o meu principal objectivo.
Arrependido? Não. Acredito em Deus. Sei que errei muitas vezes, mas fi-lo sempre por amor. Como num jogo de futebol, para uns ganharem outros têm que perder, mas isso não significa que só os vencedores têm mérito: todos têm e todos somos precisos para que a vida faça sentido e o ciclo se feche.
E pronto, tens aqui, neste blogue o homem que sou, assim despido.
Beijinhos