"A GALINHA PINTAS"
A terra onde o Artur vive é um lugar muito tranquilo, lá muito longe num
mundo onde todas as pessoas se dão muito bem, são muito amigas e gostam todas
umas das outras. É um lugar calmo, fora da cidade, sem confusão, onde se
respira paz e tranquilidade, se ouvem os passarinhos a cantar e até o vento
sopra sempre muito baixinho para não assustar as pessoas. As árvores agitam-se
e balançam como se dançassem ao som de canções de amor e a harmonia é tão
perfeita que parecem bailarinas num espectáculo esverdeado cheio de alegria.
No céu, as nuvens estão sempre a criar desenhos e, quando lá vou, o Artur e eu,
deitamo-nos no chão e pomo-nos a adivinhar o que são: umas vezes parecem-nos
aves, outras parecem-nos golfinhos, outras patos e, algumas nuvens até nos
parecem rostos a sorrirem para nós a brincar com a nossa imaginação.
Eu não vivo na terra do Artur, mas gosto muito de lá ir por causa disto;
assim como gosto das sensações que, tanto ele como aquele lugar, me transmitem.
Na verdade sinto-me como se estivesse no Céu, tão lindo e calmo é tudo aquilo:
inspira-me muito bem-estar e confiança e quando estou lá sinto-me privilegiado
por ter um amigo a viver ali naquela terra de sonho e poder ir visitá-lo de vez
em quando.
Como naquela terra distante as pessoas são muito amigas e simpáticas, certo
dia, a mãe do Artur recebeu de uns vizinhos uma oferta muito especial: uma
galinha para eles matarem e fazerem com ela uma deliciosa refeição de arroz de
cabidela. Este arroz é cozinhado com o sangue da galinha e dizem que é muito bom.
Mas o meu amigo Artur que não gostou muito da ideia de matarem a galinha teve
uma ideia genial e disse à mãe que a galinha parecia triste e magra e que
queria ficar com ela. Disse-lhe que achava que a galinha precisava primeiro de
engordar para ficar mais suculenta e que ele mesmo iria alimentá-la para ficar
mais gorda e depois já poderia ir para a panela. A mãe do Artur gostou da ideia
e concordou com a sugestão dele. O Artur agarrou então na galinha e levou-a
para o pombal da sua casa onde tinha também uns pombos de estimação. Pelo
caminho sussurrou à galinha que ia tratar dela, não para ir para a panela, mas
que iam ser amigos e, para provar isso, começou a fazer-lhe festinhas e deu-lhe
beijinhos. A pequena galinha que ainda estava meio assustada, agora no colo do
Artur, aceitou os carinhos, aquelas palavras de amizade, confiou nele e ficou
então um pouco mais tranquila. A sua hora, afinal, ainda não tinha chegado.
A galinha era de facto magrita e enfezada. Tinha um pescoço comprido e
despido de penas com umas pintas pretas sarapintadas e as suas penas
acastanhadas nem brilhavam muito. Era realmente uma galinha de aspecto muito
esgazeado e que fazia pena. Por causa das pintas do pescoço o Artur começou a
chamá-la por galinha Pintas.
No início ela nem punha ovos e, quando raramente os punha, estes eram
brancos e pequenitos. Depois o Artur falava com ela, fazia-lhe festinhas no
bico e nas penas; ela agachava-se sossegadinha para recebê-las e ficava a
ouvi-lo com atenção. Aos poucos, com o passar do tempo, a galinha Pintas ia
melhorando de aspecto e agora, quando via o Artur e este se aproximava, ela até
batia as asas de contente, já ia ter com ele para ele lhe fazer festinhas no
peito e pareciam, de facto, entender-se muito bem. E foi assim que o Artur e a
galinha Pintas se tornaram grandes amigos e também foi a partir dali que ela
começou a pôr ovos todos os dias, ovos cada vez mais amarelos, grandes e
gostosos e tornou-se numa galinha muito feliz e contente, porque era uma
galinha que punha ovos para o Artur ficar mais forte.
O
Artur para continuar a alimentar a ideia à mãe de que estava a engordar a
galinha Pintas, ia dizendo-lhe que um dia tinha tido um sonho de que aquela
galinha era a verdadeira galinha dos ovos
de ouro de que se falava muito, e que a galinha Pintas, um dia, iria pôr um
ovo de ouro... e todos ficariam mais felizes.
Obviamente
que a mãe do Artur percebendo da amizade criada entre eles e das justificações
que ele ia inventando, desistiu da ideia de matar a galinha Pintas e, assim, o
nosso herói Artur salvou a galinha da panela de arroz de cabidela e ficaram
todos amigos para sempre.
Deliciosa história esta Carlos! Tão cheia de sensibilidade que dei por mim quase a sentir o aveludado das penas da Pintas!!! Adorei, como tudo aquilo que tu escreves! Um grande beijinho meu amigo! Bea
ResponderExcluirObrigado Bea pelo carinho e pela sensibilidade.
ExcluirObrigado Bea pelo carinho e pela sensibilidade.
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