25 de Abril 1974
Uma página do meu diário sobre o 25 de Abril (adaptada)
Os foguetes ecoaram noite dentro,
na madrugada da libertação.
As vozes do povo ergueram-se
e cantaram a liberdade numa canção.
Uma nova canção nasceu,
seja em Grândola, seja em Lisboa,
pela nação como um hino cresceu
uma luta que não aconteceu à toa.
Pela noite dentro e durante o dia fui
soldado,
numa História que nunca se viveria
não fossem homens como Salgueiro
Maia, idolatrado.
outra versão aqui se contaria.
Ainda me lembro naquela noite,
acordado, em riste,
da parada para o anfiteatro em que
nos disse:
”amigos, vamos salvar Portugal,
acabar com a guerra colonial”.
Uma noite fantástica e memorável
aquela,
No lastro de uma camioneta, bornal à
fivela.
Rumo a Lisboa e pela madrugada afora,
ouviu-se no silêncio, de alegria
contida
aquela canção soando a vitória,
perdido o medo do que valeria a nossa
vida.
E de manhã, na aurora daquele dia,
nascia um país novo que por ele
morreria.
As pessoas saíram à rua e os cravos
espigaram
na ponta das espingardas, as armas se
calaram.
Foi uma festa, uma alegria, a vitória
dos oprimidos
sobre os opressores, contra os
horrores vividos.
Acabaram os presos políticos.
Os contestatários foram libertados,
Perderam-se os preconceitos míticos
das cordas fomos desamarrados.
A minha pátria voltou a sorrir,
a minha voz voltou a ouvir-se,
injustiças vi dirimir
já não fui à guerra e vi-a a sumir-se.
Aqui e na minha terra, Santarém e no
Terreiro do Paço,
a fera sucumbiu à luta e nem senti o
cansaço:
Estive no Camões que se encheu de
poetas,
esvaziou-se de ladrões e sucedeu-se
de alertas.
Lembro-me das fardas da GNR, militares
perfilados,
Eles até aos dentes armados;
eu imberbe, de arma na mão,
sabia o que fazia? não sabia, não.
Como reis para atacar-nos como peões;
Eles em parada preparados, e nós sem
guiões.
Acabar com a guerra colonial?
salvar o meu país: Portugal.
E na fúria de vencer, vi o povo a meu
lado erguer;
e o medo, o terror de morrer se
perdeu:
o povo saiu à rua e a liberdade venceu.
Foi há quarenta anos, parece que foi
ontem...
mas com tantos desenganos, por favor,
nos soltem.
CA
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