MEMÓRIAS DE 2012
Páginas do Meu Diário ( 1º Semestre)
Desta vez deixo aqui os meus melhores resumos do 1º semestre
de 2012, de acordo, obviamente, com o critério que defini.
Reitero que é uma transcrição integral do que senti no
momento em que escrevi os resumos e que não vou aqui fazer qualquer
alteração no sentido de subverter o que disse. Mais uma vez reforço que o que
escrevi é apenas o meu ponto de vista e é da minha total responsabilidade.
Carlos Alberto
Terça-feira, 3 de Janeiro de 2012 (Miratejo, 4/1 00:55h)
“Um sonho na viagem”
O amor, sempre o amor, esse cruel sentimento que ou nos faz
feliz ou nos mata por estrangulamento. E basta um filme, uma história e as
lágrimas enchem-nos estupidamente a vista. Sim, porque chorar só mesmo por
alguém que nos faça feliz. Mas aí não achamos que valha a pena. Contudo, quero
viver. O amor é demasiado frio, mas
servir-se-á à mesa. O tempo acusa-nos de sermos brandos. A fome come-se com
garfo ou com as mãos se não houver guardanapos de pano. Somos seres demasiados
espertos para estarmos acordados e adormecemos acreditando que a lua nos
transmite em canal aberto. Sim, é verdade, sempre há um oceano para atravessar,
mas desta vez rumo ao sul. Já não há nada a oeste. Vibra a noite para os lados
do equador, onde as sombras se apagam em fumos de dança. Somos carne, sensação,
alegria quando choramos. Poetas à noite fingindo de dia que a escrita é o ocaso
da vida. Vamos a correr para os braços da outra, ilha dos sonhos de todos, com a
luz da noite a salpicar-nos a vista. Rimos às estrelas que cintilam e pulam,
cantamos ao rio que se esvai em alegres rumores de que São Tomé é Príncipe. É a
viagem do sonho descoberta de um sopro, como se os mares nunca antes navegados
nos sacudissem da letargia de sermos velhos. Não queremos morrer, mas saborear
a vida, sorrir para as crianças, dançar ao som de “vai, vai” dentro de mim, ao
som brasileiro ou de outra língua qualquer. Quero lá saber; a vida pode acabar
depois de amanhã, quero viver intensamente o amanhã com quem quer estar comigo.
Carlos Alberto
Quinta-feira, 5 de Janeiro de 2012 (Miratejo, 6/01 00:30h)
“Livres como os passarinhos”
Escondidos pela sombra da noite inventamos a vida que nos
afoga. Somos o que não somos, gememos no silêncio dos murmúrios e explodimos em
raiva pela razão que nos acorda. Homens e mulheres num grito de prazer
escondidos enquanto um manto de fantasia nos cobre o rosto de vergonha.
Humanos, apenas humanos, mas como animais com cio desbravamos caminhos que
nos conduzem à luz. Que mal há naquilo a que se convencionou chamar pecado?
Sim, não fiz amor à luz das velas, nem acordado nem de forma nenhuma. Essa é
outra vertente da paixão que se aguarda, que se vai adiando de hoje para
amanhã, como de ontem para hoje. Não há sinais de glória, nem de loucura que
valha a pena. Apenas homens, um pau enquanto uma mulher se masturba. Delicia de
sonho que nos faz esconder a cara da vergonha de estarmos ali prostrados a
sentir o quanto quente o pau duro de um esgoto qualquer. Não, a rua não é o
nosso lugar. A cama abre-se em lençóis de flanela. Os joelhos estão no chão que
nos sacodem em movimentos repetitivos e cadenciados... Que mulher, meu Deus,
que nos abre o apetite mesmo que por detrás as entranhas nos rasguem por
dentro. Loucos, loucos até que o cansaço nos atire ao chão e clarividentes
possamos voltar a respirar normalmente, sem estarmos ofegantes. É assim a noite
da solidão desmedida, do pássaro que quer fugir da gaiola, mas as grades
impedem-no. Ainda bem que as grades existem para sermos homens, mas como pássaros, livres de vento.
Carlos Alberto
Sábado, 7 de Janeiro de 2012 (Lisboa, 23:50h)
“Sporting-Porto”
É uma febre que nos ataca e nos enerva um dia inteiro.
Pensamos nisso o tempo todo e a hora derradeira finalmente chega. Os nervos
estão à flor da pele. Tentamos abstrair-nos, mas o nosso coração palpita mais
depressa. Somos alma e coração, alegria e angústia. Esperamos o momento de
saltarmos do maple e gritarmos a pulmões abertos aquilo que a alma nos reprime.
Os minutos passam e tentamos perceber de que lado está a força. Sentimos que há
alguma diferença, que ela está do outro lado e que a todo o momento o mundo
pode desabar. Mas não será o fim. Haverá sobreviventes e não estaremos
sozinhos. É a hora de gritar, está na hora de explodirmos. Trememos, trememos,
sentimos que vamos desfalecer a qualquer momento. Batemos com os pés no chão,
as mãos magoam-se entre si em estalos de falhanços de bolas no poste e gritamos
contra nós próprios enquanto alguém se ri atrás de nós. É uma sorte que não
chega, um prazer que não temos. Sofremos, sofremos, mas acreditamos que ainda
somos capazes. Há ali homens a correr com toda a força e com fé e, portanto,
ainda é possível saltarmos de alegria. A lua está cheia, linda lá no alto, a
observar-nos. O estádio está a abarrotar, quase todo ele verde da esperança que
não conseguimos senão alimentar. Mas o grito, o salto, a expressão máxima do
golo, esse não acontece. Vamo-nos contorcendo tentando daqui dar um chuto
certeiro na bola e enfiá-la na baliza do nosso adversário. E não há meio de
desempatarmos aquilo. E o tempo passa, passa, e quando o minuto noventa chega
todos têm razões de queixa e ninguém foi capaz de dar um chuto de jeito. Tudo
igual, tudo pior, digo eu, sem ter podido gritar: golo do Sporting!
Carlos Alberto
Domingo, 22 de Janeiro de 2012 (Lisboa, 23:30h)
“Sofrimento oculto”
Acordar na Costa, deitar em Lisboa, adormecer no sonho,
despertar de um pesadelo. É a vida confusa e difusa de um tempo amargo doce
onde tentamos buscar a paz num inferno de emoções. Não sei que fazer, não sei
que me espera o dia de amanhã, não sei o que é bom ou mau para mim. É uma
mistura de sentimentos entre o querer e o não querer, o ser capaz e o de não
ter capacidade, o de sorrir e ser infeliz. Quero que a minha vida seja um
projecto real de vida, mas sinto-me amordaçado por um jogo de interesses. Gostava
de não me sentir um intruso, mas é o que sinto e às vezes pressinto que não
pertenço ao clã, que há reservas. Por outro lado insurjo-me com facilidade
contra aquilo que eu acho que é “a miséria de espírito”. Vejo um roto com um
saco de dinheiro debaixo do colchão. Sinto-me mal por ver tanta estupidez,
ganância, instabilidade emocional. Não sou capaz de diluir o azeite em água nem
tornar a água em álcool. Cresço e esmoreço. Tento e não me sinto com
capacidade. Dizem para eu ter força, mas há forças ocultas que me empurram para
fora. Eu serei apenas uma peça que não pertence à engrenagem e que se vai
tentando ajustar: como uma roldana que devia ser de chumbo e é de pau. Vai-se
encaixando, sim, até roda, mas um dia vai-se desgastar e vai acabar por partir.
Mas por agora serve, gira, acredita-se até que resiste ao tempo, mas eu sinto a
minha fraqueza, a minha impotência e sei que não. Porque é que as pessoas não
vêem aquilo que é óbvio e que está diante dos seus olhos?
Carlos Alberto
Quinta-feira, 26 de Janeiro de 2012 (Miratejo, 24:00h)
“Aquilo que mereço”
E continua o mesmo desabafo, a mesma conversa, a mesma
insatisfação. E apetece-me dizer que estou a atravessar um dos piores períodos
da minha vida, mas certamente não o pior. E tudo porque não me considero um
homem feliz e realizado. Todavia, já o disse, a culpa é só minha. Eu sou o
homem que sou porque não fiz mais por mim, não investi em mim, fui passando
sempre ao lado daquilo que me desse mais trabalho. Diria que procurei sempre o
caminho mais fácil e, por isso, estou onde estou. Podia e devia ter tirado o
curso de engenharia, mas também tenho a consciência de que não seria um grande
engenheiro. As obras, por muito estranho que isso possa parecer, não são o meu
forte. Se gosto do que faço e se faço o que gostava de fazer digo,
redondamente, não!!! Mas não sou capaz de dizer que me daria bem nesta ou
naquela área. Direi que sou um falhado geral, um projecto adiado, sem uma
competência numa qualquer área que seja. Sou assim um homem que falha em toda a
linha e que apesar de ter trabalhado sempre e até ter ganho muito bem, não me
especializei em nada, não tenho nada, não construí nada, não sou ninguém. E
este é o meu drama. O que é preciso fazer para termos estatuto? Eu olho para o
meu irmão e ele tem onde se agarrar; e eu? Sim, tenho três filhos, que serão eles
“a minha riqueza”, o fruto dos meus amores. Há quem colecione bens, terrenos,
casas, poder; eu tenho o amor, filhos, carinho e muita compreensão de todos
face ao homem limitado que me tornei e sou. Enfim, termino como sempre com o
que costumo dizer: tenho aquilo que mereço.
Carlos Alberto
Domingo, 12 de Fevereiro de 2012 (Lisboa, 23:45h)
“Sair ou ficar”
E o tempo passa, vai-nos consumindo, sem sermos capazes de
fazer melhor, sermos outro, sentirmos o quanto vale a vida para além do que
somos. E é bom quando acordamos e sentimos o calor e o aconchego de um abraço e
um beijo que chega na vontade. Sentimos por instantes o ofegar do outro e
gozamos o que é possível num esgar de circunstância. É a manhã que nos acorda
assim. Lá fora um frio de rachar. Os gatos espreitam pela janela através dos
baços vidros. Levantamo-nos e acabamos por sair de casa desafiando ainda o sol
tímido que, no entanto, com a sua pujança vai aquecendo talvez as folhas
amarelecidas pelo tempo. Não há mais nada além da luz. O amor já se foi, a
paixão, a loucura. Apenas um abraço do sol com a lua que ainda se atreve do
outro lado do céu. É uma canção, talvez, o riso pelas palavras, o gesto e a
forma. Sinto-me bem no momento em que me cobres as pernas arregaçadas do curto
pijama que se me encolhe. Ouço-te dizer que gostas de mim, enquanto desaparece
uma fatia de pizza. É a encomenda para o jantar que se pediu ainda a noite mal
chegou. Gelado o entardecer. Um filme na televisão que vejo e de que gosto sem
apreciar. Durmo pelo meio e acordo com a história quase no fim onde se
descobrem os criminosos. É mais um dia, ou menos; com a sensação de que há
tanto para viver, para fazer, para amar e nós nos perdemos ali em séries e mais
séries e também nas histórias de “era uma vez” a que se juntam a crimes imperfeitos.
Perfeitas perdas de tempo que só servem para estarmos juntos em frente da TV.
Carlos Alberto
Sábado, 25 de Fevereiro de 2012 (Miratejo, 23:30h)
“Solidão”
A solidão, as lágrimas, o rio, a brisa da tarde, as gaivotas,
os veleiros, os pássaros sobre o sapal, a nostalgia do tempo, a areia, as
conchas, os barcos, o céu azul, os namorados, as árvores, as palmeiras, o
caminho de terra batida, o sonho, a luz, a vida, as fotografias, o tempo, o
passado, o presente, a música, o outro lado da margem, a cidade primeiro, a
vila do outro lado do sapal. Os pardais, as árvores caducas sem folhas, outra
vez aqui as palmeiras, o pneu pendurado atado numa corda grosa de sisal - com
que se amarram as grandes embarcações - a um ramo de um velho pinheiro. Os
armazéns velhos e meio destruídos recortados na paisagem maravilhosa do
entardecer na baía, o tempo... A maré a encher, as gaivotas a perderem os
bancos de areia nas suas temporárias ilhotas que emergem das águas do rio. Os
velhos cacilheiros, os catamarãs, o meu tempo num livro, numa revista que se
desfolha sem ler, o meu automóvel. Apenas eu e o meu mundo iluminado pela
literatura. Turvam-se os olhos por instantes na areia enquanto as ondas vão
trazendo o rio margem acima. Sobra o lixo, os paus, as canas, garrafas de
plástico e os milhares e milhares de conchas de todos os tamanhos e feitios.
Sonhamos, acordamos, temos pesadelos. É a tarde na solidão da vida, o que nos
sobra quando não temos ninguém. E esperamos. Espero pela minha filha Celina que
vai chegar: é tudo quanto me resta, para a ouvir falar, falar, falar dos seus
amores, salvadores, do gostar e amar na versão mais poética e sincera de que um
ser humano consegue, sem hipocrisia. Resta-me agora este tempo com ela,
enquanto o sono já me embala, a noite que já nos abraça e, mesmo que a cama
seja pequena, para o amor há sempre espaço.
Carlos Alberto
Terça-feira, 24 de Abril de 2012 (Miratejo, 25/4 12:50h)
“A frustração de uma vida”
A sensação que tenho é que há um país perdido para aquilo que
são os direitos fundamentais de um povo. Eu não sou ninguém, nunca fui ninguém,
mas sinto-me sobretudo “injustiçado” por aquilo que é a minha actual situação
neste país. E sou um homem frustrado. Um homem que apesar da sorte que sempre tive
em sair incólume das pequenas lutas que travei, sinto-me agora, quase no fim da
minha vida, como aquele homem que teve nas suas mãos a possibilidade de ganhar
a taça e ser o verdadeiro campeão e, no momento decisivo, falhou o penalti que
lhe daria não só a consagração da sua vida, mas da vida de todos aqueles que o
rodeiam. Sou por isso hoje um homem fragilizado pelas consequências, quer das
minhas atitudes quer dos actos daqueles que nos governam. E talvez por isso e
de uma forma inexplicável, chego à noite e não consigo dormir. Passam a uma, as
duas, três e quatro da manhã e de televisão acesa debato-me contra o sono que
me desperta. Provavelmente não estou bem e a minha instabilidade reflete-se
neste estado de espírito estranho que não me beneficia. Primeiro tento ou durmo
na sala deitado no maple e, por fim ou depois, numa pequena cama de corpo e
meio, sem a abrir, num pequeno quarto, por cima da roupa e apenas tapado com um
cobertor que improviso. Olho à minha volta e vejo-me então no quarto que foi da
minha filha mais velha. Mas a sensação não é boa, e sinto-me num espaço com o
qual não me identifico porque não tem a ver nem com os meus ideais e padrões de
vida, nem com aquilo que eu sonhei para mim e que até já tive no passado. Sou,
por isso, um homem desgastado e frustrado para quem a vida se perde nestes
labirintos de sentimentos e também de alguma inglória. Irei, no entanto,
sobreviver, não sei é até quando.
Carlos Alberto
Terça-feira, 8 de Maio de 2012 (Miratejo, 9/5 00:45h)
“Vales zero”
Sempre me achei um homem especial e diferente dos outros
homens, é verdade. Essa diferença comecei a senti-la na tropa quando reparei
que os meus gostos e interesses eram diferentes dos outros rapazes da minha
idade. Todavia, integrei-me e daí a pouco acabei por tornar-me pior que eles. Até
lá, no entanto, eu era mesmo um tipo demasiado certinho e organizado. Eles
jogavam à batota e bebiam; eu lia os jornais e escrevia. Eles gritavam,
berravam, digladiavam-se; eu no meu canto, não chateava ninguém. Cresci, então
assim com este sentimento de alguma distância e diferença da maioria. Também
achava que era um tipo muito honesto, trabalhador, amigo do seu amigo e de toda
a gente. Extremamente tímido, houve um momento que achei que nunca seria capaz
de ter uma namorada. Apareceu então aquela que seria a mãe dos meus primeiros
dois filhos e casei-me com ela, não fosse ainda ficar para tio. Já tarde, a
chegar quase à terceira idade, eis que me apaixono verdadeiramente por uma
mulher que eu achava que era a minha cara-metade. Era, mas foi o meu lado podre
dela. Mas, mesmo assim, valorizei-me como homem. Com ela tornei-me muito mais
poderoso e seguro de mim. Achava-me o homem mais feliz do mundo. Até ao momento
em que me empurrou do comboio em andamento em cima da ponte. Caí ao rio, vim parar
à água e lá se foram as peneiras e a mania das grandezas. Qual melhor, qual
diferente dos outros, qual carapuça: um parvo, um estúpido foi como me senti.
Mais tarde tentei uma segunda hipótese, que seria a terceira, pois achava que
seria bom fazer uma reciclagem. Consegui ser feliz por instantes: entendia até
que voltava a ser especial para alguém, diferente dos anteriores,
insubstituível, mas, catrapumba, lá vou eu de novo ao charco. Qual especial,
qual quê: um banana, alguém que não vale um caco. E, de facto, não fiz nada
para evoluir. Acordo e deito-me sem construir nada de relevante. Ou será que
este pouco justifica algum mérito e valeu a pena?
Carlos Alberto
Segunda-feira, 18 de Junho de 2012 (Miratejo, 21:40h)
“À procura da ilusão”
Começa uma semana, mas nada muda. Os dias como que se
repetem. A diferença pode estar na nossa atitude, na diferença de sermos
diferentes, onde os limites se tocam e se projectam num infindável eco de
emoções que nos farão vibrar. Mas estamos ainda no campo das hipóteses. A nossa
vida enche-se e esvazia-se quase no mesmo ritmo. Se procuramos uma identidade
ela aí está. Não sei o que é que vai na alma daqueles que buscam um outro
sentido para as coisas que os rodeiam. Eu quero viver, gozar a vida, mas sem
fazer mal a ninguém. Eu nem sou vítima nem caçador. Nós escolhemos o nosso
caminho em função das encruzilhadas que encontramos. E basta apenas um momento,
um descargo de consciência e tudo muda com um gesto nosso. Mas não há nada de
novo que se inclua aqui, para já, senão um projecto novo de vida. Uma hipotética
relação que nasce ou morrerá na ilusão do acontecer. E hoje é até dia de festa,
mas não para mim. E fico-me por aqui entregue à ilusão do que pode mudar amanhã
na minha vida. E lá vamos nós para mais uma semana na esperança que nos dê algo
de novo e diferente, mesmo que o novo não seja na verdadeira acepção da
palavra. Mas o que quero é apenas gozar a vida, mesmo que seja em sentido
contrário, dando em vez de receber, num jogo maléfico de que o proibido é o
fruto apetecido e o sonho é apenas o período de um momento que se usufrui
gostando. Mas nada é garantido e a ilusão pode dar lugar à frustração e à
desilusão. Quando as expectativas são muito grandes, normalmente o cesto sai
furado...
Carlos Alberto
Terça-feira, 26 de Junho de 2012 (Miratejo, 27/6 09:40h)
“Qual lenda da mitologia”
O cansaço invadiu-me o corpo, e a alma, repleta de sensações
partiu para um descanso prometido e desejado. De facto, ainda me sinto
anestesiado. Escrevo, mas a mão treme-me como se eu tivesse acabado de cometer
um homicídio. Estou nervoso e inseguro. Se esta página servisse para me
incriminar de um acto ilícito, seria absolutamente possível encontrar nela indícios
de que algo de muito anormal se passou. Estou ainda transtornado depois do
longo sono que fiz. Mas estou seguro de mim. Os meus alibis são perfeitos. Não há
nada que me impeça de ser quem sou, aja como ajo e seja aquilo que sou e penso.
Eu parto em busca de mim, como um guerreiro em busca da vitória, ao encontro
daquilo que pode ser apenas mais uma batalha que se trava com prazer. Não o
prazer do sangue, mas do físico das entranhas que se penetram em esgares de
gozo assumido. No deleite de um sofá ou no chão sobre um tapete e ao fundo
imagens do Oriente, África, mesmo que o mar esteja longe, pode ouvir-se na
nossa imaginação o turbilhão que se enrola e nos degola até mais não. Percorremos
quilómetros na esperança de irmos ao encontro daquilo que não as nossas
convicções sobre os homens e as suas paixões. Sem medos, traumas ou tabus, sem
danos colaterais, partimos, para chegarmos exaustos de uma contenda, como num
diálogo de titãs, aqui retratado e que neste momento já nada é mais do que pura
história. Recordo-me das lendas, dos mitos, qual Rei Artur do século VI de
conquista em conquista em que não se sabe onde começa a verdade e acaba a
lenda. Até lá vamos tentando ser felizes, acreditando, e encontrar nos momentos
as razões do que somos e porque lutamos sendo assim. Amanhã será futuro, o
passado já foi.
Carlos Alberto
Sexta-feira, 29 de Julho de 2012 (Miratejo, 21:55h)
“Lágrimas efémeras”
Não sei que dizer, a não ser que as lágrimas voltaram por
instantes. Efémeras também como aquele momento em que pensei e agi de acordo
com o passado. E não vou acrescentar detalhes. Sei que quando voltar até esta
página até já não perceberei, à primeira, do que estou a falar. Mas ficará
assim mesmo. O passado, mesmo o recente, magoa-me e não quero chafurdar nele. Quero
ser feliz, preciso ser feliz, não sou, mas hei-de tentar sê-lo. Continuo a
dizer que não sei como, nem quando, nem onde, nem com quem, mas hei-de ser,
mesmo que a minha fé esteja hoje muito abalada. Acredito, mas, infelizmente,
não piamente. Todavia, acho que tudo tem uma razão de ser e que nada acontece
por acaso. Acho que tenho o que mereço e se mais não tenho é porque não fiz o suficiente
por isso. Sou, é verdade, o resultado dos meus actos e da sorte que tive. Fui muito
feliz, um dos homens mais felizes do mundo; considerava-me até abençoado, mas,
de repente, perdi tudo o que tinha e de que gostava muito. Estamos todos
sujeitos a isso e ninguém pense que tudo o que é adquirido pode considerar-se
como um facto consumado. Aprendi isto, da pior maneira, com o que a vida me deu
e tirou. Eu achava que dominava, que tinha tudo sob o meu controle, que Deus me
abençoara para ter o que tinha. Enganei-me. Deus mostrou-me também o outro lado
da medalha: castigou-me severamente e ainda me castiga. Mesmo assim ainda me
considero um privilegiado dentro da minha “desgraça”. Estou num quarto que é o
espelho daquilo que tenho: um cubículo que apesar de ser o ex-quarto da minha
filha mais velha é o retrato exacto do caos que é a minha vida hoje sob
diversos aspectos. Sem amigos, afastado de todos, sinto-me muito infeliz.
Carlos Alberto
PS: Para dizer que fiz
ligeiríssimas alterações muito pontuais nalguns textos, ou para lhes fazer
alguma correcção gramatical ou dar mais ênfase ao assunto.
Por outro lado dizer que são páginas de sentimentos
que estão lá muito para trás no tempo, que valem o que valem, e que hoje seriam
escritas com contornos mais positivos. “Não
há bem que sempre dure nem mal que nunca acabe”... não é?
"Façam o favor de ser felizes" (Raúl Solnado).
Dizer que gostei imenso destes resumos, destas tuas "páginas de sentimentos" não é suficiente, e gostaria de me debruçar - apenas meia dúzia de segundos - sobre o último:
ResponderExcluirLágrimas efémeras, efémeras lágrimas... Ninguém nos ensinou a não chorar. Não nos ensinaram a abrir mão dos sentimentos. Da felicidade que um dia sentimos, e que não raro pensamos nunca mais voltar a viver. Se todos os dias fossem iguais a esse, a vida seria um mar de rosas, e dessa forma perderia todo o seu encanto. Assim como se pudéssemos ter nas mãos as estrelas do céu, da mesma forma se perderia a sua beleza e graça.
Carlos, dizem que quando lemos um texto com o qual nos identificamos, esse texto nos estava destinado como um buquê de flores. Identifiquei-me com estas “Lágrimas efémeras” e se as escolhi, foi porque os teus olhos as choraram; a luz da tua estrela as iluminou; o calor das tuas palavras as aqueceu e, por fim, as secou... E eu apenas admirei o teu sentir e o buquê assim se formou: belo, único, admirável...
Parabéns, Carlos! E que sempre sejam efémeras, as lágrimas, e eternos sejam os sorrisos, a alegria, o amor...!
E faz-me "o favor" de sorrir, "pode ser?"
Um abraço, com carinho.
AF
Obrigado Ana pelo teu carinho.
ExcluirSim, já sou capaz de sorrir. Sei que sou um pouco pessimista, mas nunca um derrotado, que são coisas diferentes. Acredito no futuro, embora não conheça os seus contornos. Mas não me aflige não saber. Cheguei aqui por esta via, amanhã posso estar noutra e olhar para o céu e ver outras estrelas. Sabe Deus.
Fico feliz, no entanto, salvo os motivos, por te identificares com as minhas palavras e perceberes o quanto as lágrimas podem significar.
É verdade que a inércia de uma vida sem altos e baixos é cairmos numa espécie de rotina. E as pessoas costumam queixar-se dessa rotina. Eu, então adoro-a. A verdade é que quando a rotina se instala, para mim, isso pressupõe que está tudo bem. Por outro lado, quando ela se quebra (ficar doente, por exemplo) eis que tomamos consciência do quanto o importante ela é.
Mas não te estou a dizer que não gosto de novidades, do desafio, da quebra das regras. Eu sempre fui um irreverente e contestatário. Gosto até de ser do contra e ir contra tudo, nem que seja para abanar o sistema. Portanto, rotina sim, mas em sinergia com aquilo que considero evolução do ser humano.
CA
"Sem amigos, afastado de todos, sinto-me muito infeliz."
ResponderExcluirEsta afirmação preocupa-me...afinal todos temos pelo menos um amigo: nós mesmos. Se não nutrirmos pela nossa pessoa respeito suficiente para nos sentirmos bem conosco mesmos - sentimento cujo nome convencionado é amizade - como poderemos esperar dos outros seja o que seja?
Perdoe se a minha forma de abordar a leitura aos seus textos for damasiado "severa". Se me permite, deixe-me sugerir-lhe que se ame mais, desenvolva a sua autoestima, esforce-se por sofrer menos. Só se vive uma vez. Sei que os textos têm pelo menos um ano mas mesmo assim não se muda o sentir profundo com rapidez. Siga o conselho do saudoso Raul e tente ser feliz ainda que consigo mesmo. É possivel, eu sei isso.
Abraços
Obrigado Maria do Sol
ExcluirÉ sempre com redobrado prazer que aqui a vejo a salpicar de positivismo e assertividade este meu cantinho.
A verdade é que "parece" que nem de mim eu sou amigo... Pelo menos até aqui.
Mas também não posso ser injusto para com aqueles que me amam. Tenho algumas pessoas que gostam de mim e, portanto, dizer que não tenho amigos é ser cruel para com eles.
O meu lamento vai mais no sentido daqueles que achamos que se deviam ter importado connosco e nunca se importaram, mesmo sabendo que passávamos por dificuldades emocionais e precisavamos de apoio (para não falar daqueles que nos rejeitaram e nos causaram danos profundos, cicatrizes que jamais desaparecerão da nossa alma).
É certo que temos sempre a sensação de que somos o centro das atenções e não somos, obviamente. Cada um tem os seus próprios problemas, passa pelas suas dificuldades e, com facilidade, passam-nos ao lado as frustrações e os desaires dos outros.
Sem nos apercebermos dessa realidade ou de sermos capazes de dar uma mão quando essas pessoas precisam, fechamo-nos no nosso casulo ou baixamos os olhos parecendo distraídos...
Egoísmo é aqui a palavra certa para definir o que somos, sentimento onde às vezes caímos, mas que eu procuro, na medida do possível, repulsar da minha forma de vida.
Aqui chegado, na minha "solidão" física, mas não emocional, resta dizer que sou feliz, sim, por ter pessoas como a Maria e outras aqui a apoiarem-me e que são afinal as pessoas a quem devo muito carinho e que se tornaram, por isso, muito importantes na minha actual vida.
Obrigado a todos(não são muitos, mas cada um de vós sabe a quem me refiro).
CA
Vim agradecer teus carinho .Estou em férias,mas volto logo!abraços praianos,chica
ResponderExcluir